O Novo Testamento, em 2 Timóteo 4:7, o apóstolo Paulo afirma: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.”
Trata-se de uma passagem das mais dramáticas da Bíblia, porque afinal
Paulo fez a afirmação momento antes de ser executado em Roma. Uma
passagem que tem alimentado a fé de cristãos nesses dois mil anos.
Só tem um problema: Paulo não disse nada disso. A frase foi inventada e
colocada na Bíblia como se fosse do apóstolo. É o que garante o
americano Bart D. Ehrman, um respeitado estudioso da Bíblia.
Ehrman acaba de lançar o livro “Forjado” que tem indignado cristãos de
todo mundo, porque ali ele diz provar que pelo menos 11 dos 27 livros do
Novo Testamento são falsificações.
"Havia muita gente no mundo antigo que recorreu à mentira por achar que estava prestando um serviço a um bem maior”, disse.
As evidências disso são tantas, que ele estranha o fato delas passarem
despercebidas. Como exemplo, citou o caso dos apóstolos Pedro e João,
que estão entre os autores do Novo Testamento, embora fossem
analfabetos.
No “Forjado” ele transcreveu Atos 4:13 (“Ao verem a intrepidez de Pedro e
João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se") para
explicar que os dois apóstolos são descritos na escritura em grego como
“analfabetos”, literalmente, e não como “iletrados”, que deixa margem
para dúvida se sabiam escrever ou se eram pessoas simples, porém
alfabetizadas.
Ehrman disse ter evidências suficientes para garantir que os evangelhos,
quando começaram a ser difundidos, não tinham autorias -- o que, aliás,
era comum com qualquer tipo de texto naquela época. Os nomes atuais,
afirmou, foram adicionados posteriormente por copistas.
O estudioso afirmou que seu livro se atém mais ao Paulo porque uma parte
significativa do Novo Testamento é atribuída a esse apóstolo.
As suas conclusões se basearam também nos diferentes estilos de texto da
Bíblia e em suas contradições. Apontou, como exemplo, os escritos de
Efésios, os quais em grego são compostos por frases longas, o que é bem
diferente da escrita de Paulo.
“Não há nada de errado com as sentenças extremamente longas em grego,
mas essa não é maneira de Paulo escrever”, disse. “É como Mark Twain e
William Faulkner: ambos escreveram corretamente, mas não dá para
confundir um com outro”.
Uma
das mais flagrantes contradições, segundo ele, está em 1 Coríntios,
onde Paulo primeiro convoca as mulheres para se manifestar na igreja e
alguns capítulos depois afirma que elas devem permanecer caladas e, se
quiserem aprender alguma coisa, teriam de perguntar em casa ao marido. É
óbvio que os dois textos, segundo Ehrman (foto), não foram escritos pela mesma pessoa.
O estudioso disse que o propósito dos forjadores dos textos bíblicos foi
acalmar os ânimos dos líderes da igreja primitiva, porque entre eles
havia muita discordância sobre como tratar as mulheres, o relacionamento
entre senhores e escravos, como teriam de ser os ritos e por aí vai.
Assim, como diferentes grupos disputavam entre si o poder da seita, eles
introduziram na Bíblia textos que atendessem aos seus interesses. “Se
você fosse um joão-ninguém, não assinaria o seu texto com o seu próximo
nome, mas como Pedro e João.”
Ehrman espera que o seu livro ajude as pessoas a aceitarem algo que ele
próprio demorou em reconhecer. Ele foi um religioso fundamentalista e
hoje é agnóstico.
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